Brincar com sons
Juntar letras
Formar palavras
Descobrir a sonoridade e o nome de tudo
Que está no mundo
nas coisas
no pensamento.

Ler é tão bom!

Poder viajar
Conhecer mundos de ontem
de hoje
de amanhã.
Imaginar.
Criar.
Sonhar.
A leitura permite isso e muito mais
Pois ler é tão bom!

domingo, 15 de dezembro de 2013

MANUEL BANDEIRA e MANOEL BANDEIRA: por que grafar certo o nome desses pernambucanos?

MANUEL BANDEIRA e MANOEL BANDEIRA:
por que grafar certo o nome desses pernambucanos?
Thelma Regina Siqueira Linhares

in memorian:
Prof° Alex José Gomes da Silva


Algo que me incomoda bastante é ver a grafia do nome do poeta Manuel Bandeira, patrono do PMBFL-Programa Manuel Bandeira de Formação de Leitores escrita de forma errada. A simples troca de vogais, do u por o em Manuel, faz com que outro pernambucano ilustre e a ele contemporâneo, seja citado: Manoel Bandeira, o pintor. Assim, no mínimo, desconsidera-se, a certidão de nascimento, documento primeiro da cidadania de ambos.


IDENTIDADE
Thelma Regina Siqueira Linhares

U ou O eis a questão
que faz toda diferença
quando se trata de Bandeira.

U ou O eis o dilema
e não é só questão de grafia
dos nomes desses dois pernambucanos
contemporâneos.


Com U o Manuel
é Bandeira das letras
pois, principalmente, poeta.
Palavras e rimas: sina.

Com O o Manoel
é Bandeira das tintas
pois, essencialmente, pintor.
Nanquim e bico de pena... cena.

U ou O eis a questão
que não dá para esquecer:
com U o Manuel Bandeira é poeta.
com O o Manoel Bandeira é pintor.

Por favor!

(Olinda, 05/11/2013)

 
 MANUEL Carneiro de Sousa BANDEIRA Filho

MANOEL BANDEIRA

  
Manuel Bandeira, o poeta, nasceu no Recife, em 19/04/1881 e faleceu no Rio de Janeiro, em 13/10/1968. Professor, cronista, crítico e historiador literário foram alguns dos papeis sociais vividos, o maior, com certeza, foi na poesia.
Sua obra poética: A Cinza das Horas (1917); Carnaval (1919); Os Sapos (1922); O Ritmo Dissoluto (1924); Libertinagem (1930); Estrela da Manhã (1936); Lira dos Cinquent’anos (1940); Belo, Belo (1948); Mafuá do Malungo (1948); Opus 10 (1952); Estrela da tarde (1960); Estrela da Vida Inteira (1966); O Bicho (1947);] e Desencanto (1996).
Sua obra em prosa: Crônicas da Província do Brasil (1936); Guia de Ouro Preto (1938); Noções de História das Literaturas (1940); Autoria das Cartas Chilenas (1940); Itinerário de Pasárgada – Jornal de Letras (1954); De Poetas e de Poesia (1954); A Flauta de Papel (1957); Crônicas inéditas I e Crônicas inéditas II (2009).

O Bicho
Manuel Bandeira

Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.

Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.

O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.

O bicho, meu Deus, era um homem.


Irene no céu
Manuel Bandeira

Irene preta
Irene boa
Irene sempre de bom humor.


Imagino Irene entrando no céu:
— Licença, meu branco!
E São Pedro bonachão:
— Entra, Irene. Você não precisa pedir licença.


Manoel Bandeira, o pintor, nasceu em Escada/PE, no dia 02/05/1900 e faleceu no Recife, em 03/03/1964. As técnicas preferidas do pintor foram o desenho com bico-de-pena e tinta nanquim ou estilete - no caso dos trabalhos sobre papel gessado - e pinturas com aquarela, guache e óleo.
  







Sites interessantes sobre Manuel Bandeira, o poeta:

Sites interessantes sobre Manoel Bandeira, o pintor:

  
 Seria interessante ser disponibilizado pelo Diário de Pernambuco, o texto Xará, o batuta é você, escrito por Manuel Bandeira, o poeta, para o Manoel Bandeira, o pintor, conforme informação e texto da pesquisadora da FUNDAJ, Semira Adler Vainsencher.



terça-feira, 5 de novembro de 2013

IDENTIDADE


IDENTIDADE
Thelma Regina Siqueira Linhares

 

U ou O eis a questão

que faz toda diferença

quando se trata de Bandeira.

 

U ou O eis o dilema

e não é só questão de grafia

dos nomes desses dois pernambucanos

                                    contemporâneos.

 

 

Com U o Manuel

é Bandeira das letras

pois, principalmente, poeta.

Palavras e rimas: sina.

 

Com O o Manoel

é Bandeira das tintas

pois, essencialmente, pintor.

Nanquim e bico de pena... cena.

 

U ou O eis a questão

que não dá para esquecer:

com U o Manuel Bandeira é poeta.

com O o Manoel Bandeira é pintor.

 

Por favor!

 

 

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

SÃO FRANCISCO DE ASSIS

segunda-feira, 7 de outubro de 2013


SÃO FRANCISCO DE ASSIS

São Francisco nasceu Giovanni di Pietro di Bernardone, em 1182, na cidade de Assis, Itália, em uma família rica, ligada ao comércio. Bem jovem participou de uma guerra na cidade de Perúsia, ficando prisioneiro por meses. De volta para casa, doente, começou a pensar e agir de maneira diferente: passou a rejeitar o dinheiro e as coisas mundanas, que, antes, tanto lhe interessavam, para dedicar-se às orações e à filantropia. Certa vez, vendeu mercadorias para dar dinheiro aos pobres e comprar material de construção para completar a reforma de uma igrejinha, o que arrefeceu conflitos familiares. Deserdado, entrou de vez para a vida religiosa, fundando a Ordem dos Frades Menores e a Ordem Terceira. Conta-se que dois anos antes de sua morte (1226) Francisco recebeu os estigmas de Jesus crucificado em seu próprio corpo. São Francisco de Assis foi canonizado pelo Papa Gregório IX, em 1228. É considerado o patrono dos animais e do meio ambiente. Pregava a igualdade entre todos os seres. Atribui-se a ele a criação do presépio, nas comemorações natalinas. É um santo católico muito popular, aqui no Brasil.


Oração de São Francisco de Assis

Senhor, fazei-me instrumento de vossa paz.
Onde houver ódio, que eu leve o amor;
Onde houver ofensa, que eu leve o perdão;
Onde houver discórdia, que eu leve a união;
Onde houver dúvida, que eu leve a fé;
Onde houver erro, que eu leve a verdade;
Onde houver desespero, que eu leve a esperança;
Onde houver tristeza, que eu leve a alegria;
Onde houver trevas, que eu leve a luz.

Ó Mestre, Fazei que eu procure mais
Consolar, que ser consolado;
compreender, que ser compreendido;
amar, que ser amado.
Pois, é dando que se recebe,
é perdoando que se é perdoado,
e é morrendo que se vive para a vida eterna.


 


Antônio José da Silva é natural de Goiana / PE.  TOG, como é conhecido artisticamente,  começou a trabalhar em 1979, criando em barro, peças regionais e folclóricas. Posteriormente, passou a criar, também, peças bíblicas. Participa de feiras e eventos, em Pernambuco e no país, tendo obras premiadas.
O São Francisco de Assis acima fotografado foi adquirido no espaço em Goiana, cidade a 62 km de Recife, através da BR 101 Norte. Mais informações  sobre o artesão TOG e sua obra no site http://www.nacaocultural.com.br/tog/








Música: SÃO FRANCISCO / Autoria: Vinícius de Moraes / Intérprete: Ney Matogrosso
SÃO FRANCISCO
Autoria: Vinícius de Moraes  /  Intérprete: Ney Matogrosso
 
Lá vai São Francisco
Pelo caminho
De pé descalço
Tão pobrezinho
Dormindo à noite
Junto ao moinho
Bebendo a água
Do ribeirinho.
 Lá vai São Francisco
De pé no chão
Levando nada
No seu surrão
Dizendo ao vento
Bom-dia, amigo
Dizendo ao fogo
Saúde, irmão.
 
Lá vai São Francisco
Pelo caminho
Levando ao colo
Jesuscristinho
Fazendo festa
No menininho
Contando histórias
Pros passarinhos.
 
 
  Vinicius de Moraes um brasileiro múltiplo: poeta, compositor, dramaturgo e diplomata. Em parceria com Antônio Carlos Jobim (Tom Jobim) escreveu a "Garota de Ipanema" um hino da música popular brasileira.  Nasceu em 1913 e faleceu em 1980.
Obra de Vinícius de Moraes

Caminho Para a Distância, poesia, 1933
Forma e Exegese poesia, 1936
 
Novos Poemas, poesia, 1938
Cinco Elegias, poesia, 1943
Poemas, Sonetos e Baladas, poesia, 1946
Pátria Minha, poesia, 1949
Orfeu da Conceição, teatro, em versos, 1954
Livro de Sonetos, poesia, 1956
Pobre Menina Rica, teatro, comédia musicada, 1962
O Mergulhador, poesia, 1965
Cordélia e O Peregrino, teatro, em versos, 1965
A Arca de Noé, poesia, 1970
Chacina de Barros Filho, teatro, drama
O Dever e o Haver
Para Uma Menina com uma Flor, poesia
Para Viver um Grande Amor, poesia
Ariana, a Mulher, poesia
Antologia Poética
Novos Poemas II

 
http://www.e-biografias.net/vinicius_de_moraes/


S O S
Thelma Regina Siqueira Linhares

São Francisco de Assis
o teu xará rio nordestino
- o Velho Chico –
clama socorro!
poluído
represado
não quer ser esticado
quer, sim, ser respeitado
revitalizado
para cumprir seu destino.

Ele
que já foi considerado o rio da integração nacional
e já teve transformado seu curso natural
só quer continuar sua sina
de Minas à Alagoas
pois a seca nordestina 

não se resolve só com barragens
que modificam paisagens.
Muito mais é preciso
atitude, ética e juízo
pois se até seus mitos e carrancas
já não assustam mais?!...
O que pode fazer um rio...
sozinho?


www.usinadeletras.com.br 07/09/2007
http://usinadeletras.tempsite.ws/exibelotexto.php?cod=132189&cat=Poesias

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Memórias Socializadas - TRABALHANDO COM MÚSICAS DE CARNAVAL

O ano letivo de 2009 trouxe o tema Recife: Cidade Educadora, que foi vivenciado, pedagogicamente, por toda a RMER-Rede Municipal de Ensino do Recife.


Em fevereiro, o PMBFL-Programa Manuel Bandeira de Formação de Leitores trabalhou em uma oficina, junto à equipe do Projeto Escola Aberta, Músicas Carnavalescas como atividades de leitura e escrita. Para tanto, foram selecionados alguns frevos, cujas letras digitadas ou manuscritas, tiveram os versos separados em tirinhas. Cada grupo de participantes organizou a letra da música e ilustrou a cartolina disponível, para posterior apresentação. Breve pesquisa sobre os compositores foram realizadas.






As músicas escolhidas foram: Cala a boca menino, Bom demais, Juventude dourada, Recife manhã de sol e A cidade.

CALA A BOCA MENINO
Capiba

Sempre ouvi dizer que numa mulher
Não se bate nem com uma flor
Loira ou morena, não importa a cor
Não se bate nem com uma flor.

Já se acabou o tempo
Que a mulher só dizia então:
- Chô galinha, cala a boca menino
- Ai, ai, não me dê mais não
.
 

Bom demais
J.Michiles

Eu tenho mais que tá nessa
Fazendo mesura na ponta do pé
Quando o frevo começa
Ninguém me segura
Vem ver como é

O frevo madruga
Lá em São José
Depois em Olinda
Na Praça do Jacaré
Bom demais, bom demais
Bom demais, bom demais
Menina vem depressa
Que esse frevo é bom demais
Bom demais, bom demais
Bom demais, bom demais
Menina vamos nessa
Que esse frevo é bom demais.

Juventude Dourada
Capiba

Eu quero ver esse ano
A juventude dourada
Na rua que é do povo
Camisa aberta no peito
Fazendo o que os seus avós
Fizeram em tempos passados
Ao som do frevo bem quente
O passo sem preconceito

Estou aqui para ver
A juventude dourada
Nessa alegria de louco
Entrando na madrugada

 Recife manhã de sol
J. Michiles
 
Vejo o Recife prateado
À luz da lua que surgiu
Há um poema aos namorados
No céu e nas águas dos rios

Um seresteiro, um violão
Anunciando o amanhecer
Um sino ao longe a badalar
Recife inteiro vai render
Ave Maria ao pé do altar

Bumba-meu-boi, Maracatu
Recife dos meus carnavais
Não vejo mais sinhá mocinha
Á luz de um lampião de gás

És primavera dos amores
Do horizonte és arrebol
Vai madrugada serena
Traz delirante poema
Recife manhã de sol.

 A Cidade
Chico Science
O sol nasce e ilumina
As pedras evoluídas
Que cresceram com a força
De pedreiros suicidas
Cavaleiros circulam
Vigiando as pessoas
Não importa se são ruins
Nem importa se são boas

E a cidade se apresenta
Centro das ambições
Para mendigos ou ricos
E outras armações
Coletivos, automóveis,
Motos e metrôs
Trabalhadores, patrões,
Policiais, camelôs

A cidade não pára
A cidade só cresce
O de cima sobe
E o de baixo desce
A cidade não pára
A cidade só cresce
O de cima sobe
E o de baixo desce

A cidade se encontra
Prostituída
Por aqueles que a usaram
Em busca de uma saída
Ilusora de pessoas
De outros lugares,
A cidade e sua fama
Vai além dos mares

E no meio da esperteza
Internacional
A cidade até que não está tão mal
E a situação sempre mais ou menos
Sempre uns com mais e outros com menos

A cidade não pára
A cidade só cresce
O de cima sobe
E o de baixo desce
A cidade não pára
A cidade só cresce
O de cima sobe
E o de baixo desce

Eu vou fazer uma embolada,
Um samba, um maracatu
Tudo bem envenenado
Bom pra mim e bom pra tu
Pra gente sair da lama e enfrentar os urubus

Num dia de sol, recife acordou
Com a mesma fedentina do dia anterior.


O homem da meia noite
Carlos Fernando

Deu meia noite
São doze em ponto
Deu meia noite na noite
São doze em ponto
E a lua cheia clareia os Quatro Cantos
E a lua cheia clareia os Quatro Cantos
Pra ver quem vem passar
Descendo a ladeira
Pra ver quem vem passar
Fervendo a chaleira
É o Homem da Meia Noite que vem
Vestindo fraque colete
Gigantes pernas de pau
Dançando na multidão
Com riso de manequim
Com riso de manequim
Mamãe querendo enganar
.


quinta-feira, 22 de agosto de 2013

22 de agosto

Texto publicado no www.usinadeletras.com.br, em 24/08/2002. Seis anos depois, no http://thelmaregina.blogspot.com.br/2008/08/22-de-agosto.html e hoje, reedição, com cópia nos outros dois blogs. 
22 DE AGOSTO

Thelma Regina Siqueira Linhares


Além de rimar com desgosto, o mês de Agosto traz em seus dias a comemoração do Dia Mundial do Folclore. Precisamente, o dia 22. Data dedicada a tudo que traduz “o pensar, sentir e agir de um povo” como tão definitivamente definiu Luís da Câmara Cascudo, o mais completo folclorista brasileiro.
O vocábulo Folclore foi criado em 1846, pelo antropólogo inglês William John Thoms. Mas, muito tempo atrás, ainda na Antiguidade, escritores, pensadores e filósofos atentaram para alguns fatos folclóricos dedicando-lhes estudos e importâncias na construção do conhecimento de povos, culturas e civilizações.
A vivência do Folclore há muito retrocede no tempo. Talvez, àquele exato momento em que os primeiros seres humanos se definiram como tal, na linha divisória com os outros primatas. Observando a natureza, buscando a sobrevivência da espécie, dando identidade própria a determinado grupo social, enfim, promovendo aprendizagens e socializando conhecimentos incorporados às tradições e transmitidas oralmente através das gerações.
À tradição e à oralidade, junta-se o anonimato e a funcionalidade do fato para torná-lo folclórico. Do contrário, apenas um fato popular ou pitoresco.
E como é variado o leque dos fatos folclóricos! Cantigas de ninar e acalanto. Cantigas de roda. Histórias da carochinha, lendas e mitos. Brinquedos e brincadeiras populares. Ditados populares, provérbios, frases de pára-choques de caminhão. Parlendas, trava-línguas. Adivinhações, crendices e superstições. Comidas e bebidas típicas. Tipos populares. Artesanato. Medicina popular. Entre tantos.
E tem fato folclórico para todo gosto e idade.
Ainda no ventre da mãe, adivinhações e crendices buscam a identificação do sexo do feto. Ao nascer, braços carinhosos, solícitos e cuidadosos protegem o bebê que cresce e vai se apropriando da cultura em que está inserido. Pela transmissão. Pela oralidade. Pela tradição.
Na creche ou na escola se acelera a socialização infantil. As brincadeiras e cantigas de roda, as parlendas, as histórias da carochinha, etc. povoam a imaginação, exercitam à criatividade, ampliam vocabulário. Na infância e adolescência, brincadeiras populares, folguedos, crendices e superstições. Na idade adulta e velhice, comidas e bebidas típicas, crendices... E a história se repetindo, se reinventando, se reescrevendo.
22 de Agosto.
Bela data para rever valores. Inclusive, ocasião para reverter preconceitos de considerar Folclore uma ciência de menor importância para a humanidade. Neil Armstrong ao deixar sua pegada no solo lunar citou ser aquele “um grande passo para a humanidade” e lá ficou a marca do seu pé direito... para dar sorte, com certeza!
22 de Agosto.
Também é data de lembranças. Da festa do Folclore na FUNDAJ, tendo por anfitrião o folclorista Mário Souto Maior. Encontro de amigos. Socialização de saberes. Comes e bebes autenticamente nordestinos...
22 de Agosto.
Viva o Folclore!
Recife, 24/08/2002.

terça-feira, 13 de agosto de 2013

FOLCLOREANDO NA ESCOLA - Vivências de Folclore em sala-de-aula no Ensino Fundamental



interessante observar que o presente texto foi escrito e publicado em 2001, há mais de uma década, anterior, portanto, a algumas leis que ampliam a educação brasileira, por exemplo,
necessitando de ajustes, caso seja usado como material de apoio em projetos didáticos.



FOLCLOREANDO NA ESCOLA (*)
Vivências de Folclore em sala-de-aula no Ensino Fundamental
Thelma Regina Siqueira Linhares

Pensar, falar, escrever, pesquisar sobre o folclore é sempre muito prazeroso porque se trata de vivências, antigas ou atuais, compartilhadas ao longo de gerações. Afinal, traduz o pensar, sentir e agir do povo, como definiu Luís da Câmara Cascudo. (1)
A palavra folclore vem do inglês - folk lore - e foi inventada em 1846, pelo sociólogo Willians Thomes, significando saber (folk) do povo (lore). No Brasil, o termo traduz tudo aquilo que, compartilhado pelo povo, caracteriza a sua própria identidade, a sua brasilidade e/ou, então, aquilo que é peculiar a uma região, a uma localidade menor, ou até mesmo, a um grupo social específico.
Para que um fato seja considerado folclore é preciso que alguns fatores, em conjunto, sejam considerados. Do contrário, é um fato social, popular .
Anonimato: no fato folclórico, o autor ou inventor conhecido se perdeu no tempo. Foi despersonificado.
Aceitação coletiva: inventado e aceito, o fato passa a ser repetido, vivenciado, modificado, acrescido. O povo passa a incorporá-lo como seu.
Transmissão: o fato é passado às novas gerações pela transmissão, preferencialmente, oral. A aprendizagem, quase sempre, é informal e lúdica – aprende-se por aprender, fazendo brincando. Hoje, os meios de comunicações em massa, acessíveis a parcelas cada vez maiores da população e a escolarização em índices sempre crescente, reduzem a importância da oralidade no processo de perpetuação do fato folclórico. Identificando na perpetuação do folclore o dinamismo que o caracteriza: folclore é vida!
Funcionalidade: o fato folclórico existe para atender alguma função ou necessidade, uma razão de ser, um porquê, que pode, inclusive, já se ter perdido no tempo.
São inúmeras e variadas as manifestações folclóricas, vivenciadas no coletivo e, às vezes, com conotações bem individualizadas. Desejar saúde para quem espirra, ter o número 13 como de azar ou sorte, cantar atirei o pau no gato, comer uma canjica, dançar uma quadrilha, comprar um bumba-meu-boi de barro, empinar um papagaio ou pipa, usar branco na passagem de ano, etc. etc. são alguns exemplos de manifestações folclóricas vivenciadas em diferentes etapas da vida e em oportunidades e freqüência, igualmente, variadas.
O folclore direcionado às crianças, talvez, seja o mais rico em manifestações. E, com certeza, é o que mais belas lembranças trazem.
Cantigas de ninar ou acalanto: Começa no berço o aprendizado do folclore. Com que amor a mãe ou a figura materna canta para adormecer o bebê!
Dorme nenen
Que a cuca vem pegar
Mamãe foi pra roça
Papai foi trabalhar.

Cantigas de roda: expressão maior da infância, particularmente, das meninas. Importante instrumento de socialização nas escolas de Educação Infantil (creche e pré-escola). Os livros didáticos de Educação Infantil e das primeiras séries do Ensino Fundamental (1ª a 4ª séries), regularmente, trazem esta manifestação folclórica em suas páginas.
Pai Francisco entrou na roda
Tocando o seu violão
Delém, dém, dém (bis)
Vem de lá seu delegado
Que Pai Francisco
Saiu da prisão.
Quando ele vem
Se requebrando
Parece um boneco
Se desmanchando. (bis)

Histórias de trancoso ou da carochinha: quem não guarda na memória passagens inesquecíveis de suas histórias prediletas e que dividem, com os super-heróis televisivos, o imaginário infantil? Cinderela, Branca de Neve, Os Três Porquinhos.
Brinquedos populares: brinquedos confeccionados artesanalmente ou não e que fazem a alegria da garotada, em particular, as das camadas sócio-econômicas mais desfavorecidas.  pipa (papagaio), pião, mané-gostoso, bruxinha de pano, iô-iô, rói-rói.
Brincadeiras infantis: brincadeiras vivenciadas, principalmente, pela garotada dos bairros mais populares, morros e periferias do Recife. Sujeitas a modismos. pular academia (amarelinha), pular elástico e corda, soltar papagaio (pipa), jogar bola de gude, pião, brincar de estátua, telefone-sem-fio.
Adivinhações: perguntas que se faz, geralmente, usando a expressão “o que é o que é?” e que a criançada se apressa em resolver os desafios e enígmas. O que é o que é?Tem coroa e não é rei? Tem espinhos e não é rosa? (Resposta: abacaxi)
Parlendas: brincar com as rimas das palavras é preferência da garotada, em especial, nos primeiros anos de escolaridade.
Um, dois - feijão com arroz.
Três, quatro - farinha no prato
Cinco, seis - tudo outra vez
Sete, oito - como biscoito
Nove, dez - besta tu és.

Trava-língua: brincar com as palavras que, em combinações complicadas, devem ser ditas rápida e repetitivamente.
Na casa de seu Saldanha tinha uma jarra e dentro da jarra uma aranha.
A aranha arranha a jarra e a jarra arranha a aranha. (bis)

Lendas: histórias que tentam dar explicações a fenômenos da natureza, a seres vivos e imaginários. Negrinho do pastoreio, Cumade Fulozinha , Saci-pererê, Boitatá, Sereia, Boto cor-de-rosa, do Milho, da Mandioca.
Quadrinhas: as meninas, especialmente ao entrar na adolescência, usam esta manifestação folclórica para expressar a descoberta do amor.
Com a escrevo amor
Com p escrevo paixão
com e escrevo Edvaldo
Que é dono do meu coração.
Mitos folclóricos: seres do imaginário coletivo que têm existência própria e estão associados às lendas. Saci-pererê, Sapo-cururu, Cuca, Boitatá, Iara, Caipora, Mula-sem-cabeça, Curupira Lobisomem.
Piadas ou anedotas: histórias engraçadas ou até imorais que fazem a graça em rodinhas de amigos, algumas vezes, regadas por cervejas.  Piadas de português, de papagaio, de Juquinha, discriminatórias (de negros, pobres, deficientes físicos, homossexuais).
Medicina popular: uso das plantas que curam, de uma farmácia vinda diretamente da natureza. Sabedoria tradicionalíssima usada, em especial, pelas camadas da população mais pobres e por aqueles adeptos da medicina alternativa e natural. Médicos e demais profissionais da saúde, vem dando importância a esta terapia, objeto de estudos cada vez mais difundido nos meios acadêmicos, científicos e farmacêuticos. Boldo, hortelã, língua de sapo, alfavaca, canela, gengibre, biribiri, mastruz.
Literatura de cordel ou folheto: literatura popular e tradicional, talvez, o principal meio de comunicação entre as camadas mais populares, até as primeiras décadas do século XX. Muitas vezes associada ao canto. O poeta-trovador, através de desafios e causos, levava conhecimento e diversão à platéia, que acompanhava atenta.  Estórias de animais, de amor, de religião, de banditismo, mitológicas (com motivos de morte, magia, sorte ou agouro), de fatos acontecidos. 
Xilogravura: artesanato da gravura, do desenho. Associada, principalmente, ao folheto, à literatura de cordel. Cenas da natureza e do cotidiano do sertanejo costumam ter destaque na temática da xilogravura.
 

Artesanato: usando material diverso (palha, barro, madeira, pano, papel, gesso, plástico, cera, contas, miçangas, sementes) e muita criatividade, o artesão concretiza o imaginado, criando objetos utilitários,votivos ou estéticos. Peças de barro da escola de Mestre Vitalino, Caruaru (PE), rendas de Passira (PE), Carrancas do Rio São Francisco (PE e BA),  Colares hippies.
 
 Provérbios/Ditados populares: pensamentos, frases feitas, máximas, cujas mensagens objetivam interferir, positivamente, na conduta e no comportamento. Filosofia, moral, ética e religião transparecem explícitas ou nas entrelinhas.  Água mole em pedra dura tanto bate até que fura.
Frases de para-choques de caminhão: frases de cunho moral, religioso e até imoral, difundidas pelos caminhoneiros em seus veículos. Dirigido por mim, guiado por Deus. Vou arranjar ½ de rezar 1/3 para ir a ¼ com você. 20 ver.

Superstições: práticas de comportamentos para afastar e/ou neutralizar azar para dar e/ou atrair sorte. São reforçadas pelas coincidências de resultados considerados. Número 13, figa, ferradura, determinada roupa, repetir comportamento, não passar debaixo de escada, desvirar roupas e calçados, bater na madeira.

 
Crendices: fórmulas para manter determinados comportamentos, condicionados pela crença do faz mal ou do faz bem. Faz mal tomar leite e comer manga. Deixar chinelos emborcados provoca a morte de pessoa querida. Pular janela causa a morte da mãe.

Comidas típicas: características a determinadas localidades geográficas e ciclos folclóricos, muitas vezes, incorporadas à culinária trivial e cotidiana deixando, com certeza, água na boca e dando um sabor especial ao folclore brasileiro. Canjica, pamonha, pé-de-moleque caracterizam o ciclo junino, em especial, no Nordeste. Churrasco, feijão tropeiro apreciados no sul do país. Feijoada, baião-de-dois, vatapá, acarajé, pato ao tucupi. Bebidas típicas: versão líquida da culinária incluída no folclore brasileiro. Batida de maracujá, licor de jenipapo, chimarrão, caipirinha. 
Folguedos populares: identificados com os principais ciclos folclóricos. Bumba-meu-boi, Pastoril, Reisado, Fandango.
Danças folclóricas: associadas a folguedos, ritmos e músicas ilustram a diversidade e riqueza do folclore brasileiro. Algumas dessas danças possuem trajes típicos, que lhes dão identidade própria. Frevo, Xaxado, Coco, Ciranda, Forró, Maracatu, Caboclinho, Quadrilha.
Os folcloristas costumam, didaticamente, identificar ciclos no folclore brasileiro e que são vivenciados, em todo o território nacional, com intensidade e características próprias.
Ciclo Carnavalesco: tem as folias de Momo como referência onde predominam a alegria, cores, descontração e irreverência. Frevo, Maracatu, Caboclinho, Urso, Máscaras, Fantasia.
Ciclo da Quaresma ou Semana Santa: referem-se à Paixão e Morte de Jesus Cristo. A malhação de Judas e a culinária à base de coco.
Ciclo Junino: iniciado no dia de São José (19 de março) com o plantio do milho, tem a culminância com os Santos de junho: Santo Antônio – o casamenteiro (13), São João (23) e São Pedro e São Paulo (29). Este ciclo é muito festejado no Nordeste, caracterizando-se pela alegria, cores, festanças e uma gostosa culinária, à base do milho. Forró, baião, banda de pífano. Quadrilhas, roupas matuta. Balões, fogos de artifício. Superstições e adivinhações para resolver problemas amorosos. Comidas típicas: pamonha, canjica, pé-de-moleque, milho assado e cozido. Quentão.
Ciclo Natalino: o nascimento (Natal) de Jesus Cristo é o tema central deste ciclo. A solidariedade, o amor ao próximo e a Deus, aparecem, explicitamente ou nas entrelinhas, em todas as manifestações do período. Pastoril, Presépio, Papai Noel, troca de presentes. Superstições, crendices. Comidas típicas.

Os órgãos oficiais de turismo, cientes da motivação que tais ciclos exercem, concentram esforços junto à mídia, para divulgação nas demais regiões do Brasil e no exterior, sabedores de que divisas ficarão com o fluxo maior de turistas nesses eventos.
No entanto, é imprescindível ter a clareza que, folclore, popular e turismo não são exatamente a mesma coisa, embora, quase sempre estejam associados. Atentar para isso é importante para professores e bom para o folclore.

Pernambuco possui um número considerável de pessoas que fazem e/ou vivem o folclore. Algumas conhecidas e famosas. A maioria, desconhecida e anônima.
Na Cerâmica, os bonecos de barro, têm em Mestre Vitalino seu maior nome. Fez escola, ainda hoje seguida, por filhos, netos e conterrâneos de Caruaru. Naquela cidade há o museu em sua memória, na casa onde viveu.
Nas Carrancas do Rio São Francisco, destaca-se Ana das Carrancas.
Na Cerâmica dos santos de barro, cita-se Zezinho de Tracunhaém.
Na xilogravura, J. Borges, é um artesão do desenho, além de poeta popular. Suas xilogravuras ilustram folhetos, quadros e painéis.
Na Ciranda, duas mulheres se destacam, em especial nas décadas de 60 e 70, quando, semanalmente, comandavam rodas de ciranda em suas respectivas cidades: Lia de Itamaracá, na ilha de Itamaracá e Dona Duda, no Janga, Paulista.
No Coco, destaca-se Dona Selma do Coco, descoberta pela mídia televisiva, em 1997, quando após gravar CD, apresentou-se pelo país e Europa, em programas de televisão, casas de espetáculos e festivais.
No frevo, personificando-o destaca-se Nascimento do Passo, que há décadas faz escola e ensina os segredos do frevo a passistas de todas as idades em escola municipal e oficinas. Nos últimos anos, a garota Safira tem recebido apoio dos órgãos oficiais de turismo para divulgação do frevo pernambucano.
Os bonecos gigantes de Olinda são cada vez mais populares nas ladeiras daquela cidade tornando-se expressão característica do seu carnaval. Sílvio Botelho é o principal artesão, o pai dos bonecos gigantes. Homem da Meia-noite, Mulher- do-dia, Menino da Tarde, Gilberto Freyre, Capiba, Turista.
Maracatu rural destaca-se Mestre Salustiano.
Mamulengo ou fantoche é outra modalidade do folclore brasileiro destacando-se Mestre Tiridá e os bonecos de Lobatinho.

O folclore brasileiro vem sendo estudado, sistematicamente, durante todo o século XX embora, só em 1966 teve o dia 22 de agosto, lhe dedicado oficialmente, por decreto-lei.
Pereira da Costa foi um dos pioneiros nos estudos folclóricos.
Luís da Câmara Cascudo, com certeza, o maior pela sistematização didática e pela extensa bibliografia.
Renato Almeida, Edson Carneiro, Théo Brandão, Saul Martins, Waldemar Valente, Roberto Benjamim são nomes de destaque entre os folcloristas, de ontem e de hoje.
Mário Souto Maior, que durante muitos anos, esteve à frente da Coordenadoria dos Estudos Folclóricos, da FUNDAJ, foi exemplo de dedicação ao folclore. Dicionário do Palavrão, Nomes próprios pouco comuns, Comes e bebes do Nordeste, Assim nasce um cabra da peste são alguns das dezenas de títulos do referido pesquisador, que também escreveu para o público infantil.
O professor de Educação Infantil (creche e pré-escola) e, principalmente, o de Educação Fundamental (1ª a 8ª série) tem no folclore panos para as mangas. Conteúdo significativo para trabalhar, não apenas no mês de agosto, mas o ano todo, todo ano. Não só os temas integrantes da pluralidade cultural, como diferentes conteúdos, das áreas específicas do conhecimento, podem ser abordados a partir de um fato ou manifestação folclórica. Os PCNs – Parâmetros Curriculares Nacionais (2) garantem a interdisciplinaridade que, naturalmente, aflora ao se vivenciar fatos folclóricos na sala-de-aula.
Numa receita de culinária típica, feijoada por exemplo, o professor de 1ª a 4ª série pode trabalhar:
* Português - escrita e leitura do texto, tipografia textual, conteúdos gramaticais.
* História - localização temporal da receita.
* Geografia - localização espacial da origem ou aceitação coletiva da feijoada.
* Ciências - valor nutritivo da receita e seus ingredientes, origem dos mesmos
na natureza.
* Matemática - medidas de massa e volume implícitas nos ingredientes.
* Artes - desenho da receita, dramatização de uma cena da família se alimentando.
Se a turma for de 5ª a 8ª série, o professor pode ainda abordar:
* Química - composição química de alguns ingredientes da receita.
* Física - relação entre temperatura e o cozimento da feijoada.
* Inglês - traduzir a receita para o Inglês ou outra língua estrangeira.

O professor, vivenciando o folclore em sala-de-aula, pode desenvolver projetos didáticos os mais variados possíveis e cobrindo diferentes períodos do ano letivo de 200 dias ( 800 horas-aula) conforme determinação da LDB-Lei de Diretrizes e Bases da Educação. (3)
1.      ciclo carnavalesco (fevereiro/março)
2.      tempo e folclore (março)
3.      ciclo quaresmal (março/abril)
4.      folclore e mulher (maio)
5.      ciclo junino (junho)
6.      folclore na estrada (julho)
7.      folclore (agosto)
8.      folclore e vegetais (setembro)
9.      folclore infantil (outubro)
10.   folclore de vida e morte (novembro)
11.   ciclo natalino (dezembro)
podem ser abordados em projetos didáticos e garantidos pela motivação que emanam das manifestações folclóricas, rendendo-se a seus encantos, educandos e educadores.

Atividades de pesquisa, escrita e reescrita, leitura e releitura, desenho, dramatização, confecção, fotografia, gravação e filmagem são formas possíveis de vivenciar folclore em sala-de-aula, nas diferentes séries do Ensino Fundamental, da rede pública e privada. Um outro recurso, a entrevista, talvez, seja a atividade mais científica de se vivenciar o folclore no cotidiano escolar, quando gerações diferentes conversam, ensinam, resgatam, comparam, socializam experiências – Como era antes? Como é hoje ? – de diferentes fatos e manifestações folclóricas, reproduzindo, na escola, a dinâmica do folclore existente desde os primórdios da humanidade, quando traços culturais passaram a diferenciar o homem dos outros animais.

Referências Bibliográficas
(1) CASCUDO, Luís da Câmara. Dicionário do Folclore Brasileiro. 3ª Ed.Brasília: Ministério da Educação e Cultura/Instituto Nacional do Livro. 1972.
(2) PCN-Parâmetros Curriculares Nacionais. Vol 10. Pluralidade Cultural e Orientação Sexual. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental.
Brasília. 1997.
(3) LDB-Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – Lei Federal nº 9394, de 20/12/1996.

(*) Série FOLCLORE - nº 288 - agosto/2001.
www.usinadeletras.com.br publicado em 07/07/2002.