Brincar com sons
Juntar letras
Formar palavras
Descobrir a sonoridade e o nome de tudo
Que está no mundo
nas coisas
no pensamento.

Ler é tão bom!

Poder viajar
Conhecer mundos de ontem
de hoje
de amanhã.
Imaginar.
Criar.
Sonhar.
A leitura permite isso e muito mais
Pois ler é tão bom!

domingo, 3 de maio de 2009

ALGUMAS CANTIGAS DE RODA

ALGUMAS CANTIGAS DE RODA
Thelma Regina Siqueira Linhares

Em 1979, quando ensinávamos, realizamos uma pesquisa entre alunos da 1ª a 4ª série do 1º Grau, de uma escola particular na cidade do Recife. O universo pesquisado totalizou oito turmas e cento e trinta crianças.
A pesquisa foi composta de um questionário, a título de tarefa de casa, durante as comemorações do mês de folclore – agosto. E, para a realização da mesma, contamos com a colaboração das colegas professoras, responsáveis por suas respectivas classes.
O questionário, respondido por crianças na faixa etária dos seis aos doze anos, abrangeu algumas das manifestações do folclore infantil: cantigas de roda, estórias e lendas, parlendas e travalínguas e brincadeiras. Também, apresentou perguntas sobre adivinhações, quadrinhas populares e provérbios.
Em algumas respostas percebemos, de modo nítido, a orientação do adulto. Porém, consideramos que tal interferência não invalidou os dados coletados, pois a transmissão – oral ou não – do fato folclórico às gerações mais novas, foi e continua sendo uma das principais fontes de sua própria sobrevivência.
Nesta pesquisa, apresentamos o que foi possível coletar sobre cantigas de roda. As mais conhecidas pela garotada e suas variações, às vezes, em apenas uma palavra. Descrevemos, também, a maneira peculiar de brincá-las. Na conclusão, apresentamos algumas sugestões que, no nosso entender, poderiam intensificar a presença desta manifestação folclórica no cotidiano infantil.
Uma restrição, desde já, fazemos ao presente estudo. Referimo-nos à nossa falta de conhecimento musical para “prendermos” nas classes de sol ou fá – não sei – a musicalidade das cantigas de roda.

A cantiga de roda que maior freqüência teve na pesquisa foi a Atirei o pau no gato. Brinca-se em roda, de mãos dadas, girando para a direita ou para a esquerda. Não há dramatização. Apenas no final da música – no “miau” – é que as crianças se acocoram. Além de ter sido a mais citada, esta cantiga de roda apresentou o maior número de variações: às vezes, em uma só palavra; em outras, em um verso inteiro. A primeira versão foi a mais conhecida:
“Atirei o pau no ga to tô
mas o ga to tô
não morreu reu reu
dona Chica ca
dimirou-se se
do miau, do miau
que o gato deu:
Miau!”

“Atirei o pau no ga t ó tó
mas o ga t ó tó
não morreu reu reu
dona Chi c á cá
De mirou s é sé
Do berro, do berro
Do gato teu
Miau!”

“Fui à Espanha” é outra cantiga de roda muito apreciada pelas crianças. Nela, a dramatização está presente e, o que é importante, todos participam em conjunto e igualmente. Por exemplo: apontar o céu, bater palmas, bater com o pé no chão, requebrar com as mãos na cintura, etc. A preocupação de todos é não ser a avó no final da brincadeira. Isto é, ao ser cantado o estribilho “a bênção vovó”, a roda é desfeita e cada criança procura um par. A que ficar sozinha é a avó e para ela se dirigem todos os pares:
“Fui à Espanha
buscar o meu chapéu
azul e branco
da cor daquele céu.
Bate palma, palma, palma
Bate pé, pé, pé
Olha a roda, roda, roda
Caranguejo peixe é.
Caranguejo não é peixe
Caranguejo peixe é
Caranguejo só é peixe
Na enchente da maré.
Samba crioula
Que vem da Bahia
Pega a criança e joga na bacia
A bacia é de ouro
Areada com sabão
E depois de areada
Enxugando com o roupão
O roupão é de seda
Camisinha de filó
E agora vamos dar
A bênção a vovó!
A bênção vovó!” (Repete-se diversas vezes)

Outra cantiga de roda em que há a participação do grupo é em “A canoa virou”. As crianças vão cantando e dizendo, de cada vez, o nome de um componente da roda. Ao ser chamado, o participante fica de costas e, continua na roda, até que todos assim estejam.
“A canoa virou
deixou de virar
por causa de ____ (o nome de uma criança da roda)
que não soube navegar.
Se eu fosse um peixinho
E soubesse nadar
Eu tirava ____ (repete-se o nome da criança)
Das ondas do mar.”

Em “Pai Francisco”, duas crianças são previamente escolhidas e têm, assim, o papel de destaque. Uma fica dentro da roda, parada, enquanto a outra, o “Pai Francisco”, fica do lado de fora, aguardando a chamada dos companheiros. O grupo começa a cantar e, quando chama o “Pai Francisco”, a roda pára e abre alas para sua passagem. Este deverá dramatizar bastante, para a alegria da garotada.
“Pai Francisco entrou na roda
Tocando seu violão
Delém, dém, dém
Delém, dém, dém.
Vem de lá seu delegado
Que Pai Francisco
Entrou na prisão.
Quando ele vem
Se requebrando
Parece um boneco
Se desmanchando.” (bis)

Em algumas cantigas de roda, a amizade existente entre as crianças pode interferir no transcurso da brincadeira. Isto porque, em alguns papéis de destaque que exigem substituição, pode ocasionar a escolha freqüente de determinada criança, em detrimento de outras que, assim, se sente rejeitada. Pode ocorrer, também, o pedido quase coletivo de ser escolhido, com a saída, até, do lugar na roda, o que, de certa forma, tumultua a brincadeira.

“A Carrocinha Pegou” é um exemplo. Ao ser iniciada a brincadeira, três crianças são escolhidas para ‘cachorrinho”. Estes formam uma roda menor, no centro. Quando chega a hora do estribilho, a roda maior pára e os “três cachorrinhos” escolhem um substituto, respectivamente, com pulos coordenando deslocamentos da mão direita para a testa e calcanhar direito tocando o chão. Em seguida, efetuam este mesmo movimento para o lado esquerdo, alternando-se até o término do refrão:
“A carrocinha pegou
três cachorros de uma só vez. (bis)
Trá lá lá que gente é essa?
Trá lá lá que gente má. (bis)”

Na cantiga de roda “Senhora dona Sancha” escolhe-se uma criança que fica acocorada no centro da roda, com os olhos tapados pelas mãos. Quando se canta o último verso, a criança, com os olhos fechados, vai escolher “uma pedrinha”. A escolha consiste em abraçar um dos integrantes da roda, que está parada. Para dificultar a escolha, pode ocorrer que todos resolvam se deslocar quando “Senhora dona Sancha” se aproxima...
“Senhora dona Sancha
descubra o seu rosto
seu rosto é de prata
quero ver a sua cara.
Que anjos são esses
Que andam por ai
É de noite é de dia
Padre Nosso, Ave Maria.
Sou filha do rei
Neta da rainha
Seu rei mandou dizer
Que escolhesse uma pedrinha.”

Como conclusão, arriscamos apresentar as seguintes considerações:
A cantiga de roda constitui um elemento indispensável na socialização infantil, além de ser um importante lazer.
As crianças pequenas começam a brincar de roda já no pré-escolar, ou antes, com as mães, babás ou coleguinhas.
Em geral, os meninos não gostam muito de brincar de roda – acham que é “brincadeira de menina”.
Embora, a freqüência da roda nos recreios escolares, praças ou áreas de lazer de edifícios seja pequena, é interessante verificar sua presença, ainda que, só como música, canto.
É alentador, de certa forma, observar que a cantiga de roda disputa, com os super-heróis importados e brinquedos eletrônicos, um lugarzinho nas preferências infantis.
É estimulante saber que as crianças continuam dando as mãos e brincando de roda, embora em número muito reduzido. Mas, continuam cantando:
“Ciranda, cirandinha
Vamos todos cirandar
Vamos dar a meia-volta
Volta e meia vamos dar.”
Nós, adultos, poderíamos e deveríamos contribuir, de modo consciente e objetivo, na preservação e maior divulgação desta manifestação do folclore infantil – assim como, de muitos outros fatos folclóricos.

Apresentamos a seguir, apenas, três sugestões a respeito:
As professoras poderiam introduzir, com maior freqüência, as cantigas de roda no repertório do pré-escolar, através de dramatizações, das festinhas ou, simplesmente, dos recreios dirigidos.
As professoras de 1º Grau poderiam usar, como textos de leitura e interpretação, as letras das cantigas de roda em suas classes.
Os meios de comunicações, em especial a televisão, poderiam divulgar mais as cantigas de roda dentro de suas programações infantis, utilizando-se de concursos, pesquisas e promoções diversas.

(*) Micromonografia da série FOLCLORE, nº 136, de julho de 1983. FUNDAJ.
Incluso na ANTOLOGIA PERNAMBUCANA DE FOLCLORE. Organizada por Mário Souto Maior e Waldemar Valente. Editora Massangana. Recife. 1988

www.usinadeletras.com.br 20/04/2002

2 comentários:

Escola Municipal Oswaldo Lima Filho disse...

Oi, Thelma!
Adorei este artigo sobre as cantigas de roda.Li o seu comentário sobre o nosso blog.Quero esclarecer que ele foi criado num encontro da RELER e que tanto a Gerência de Biblioteca quanto a Gerência de Tecnologia tem o endereço dele. Acredito que a equipe da RELER deveria pensar uma maneira de divulgar os blogs das escolas na Rede Municipal de Ensino.
Um abraço,
Fabíola Siqueira - Escola Municipal Oswaldo Lima Filho.

joelma disse...

estou procurando a letra de uma ciranda cujo compositor é do recfe o trecho da música é mais ou menos assim *mandei fazer uma casa de farinha bem maneirinha que o vento possa levar,o passa sol passa chuva passa vento só não passa o movimento do cirandeiro a rodar*estou trabalhando um projeto *passenando pela música*gostei do artigo e espero que possam me ajudar.Um abraço!Prof. Joelma Serafim .Escola Municipal Deusnil de souza