Brincar com sons
Juntar letras
Formar palavras
Descobrir a sonoridade e o nome de tudo
Que está no mundo
nas coisas
no pensamento.
Ler é tão bom!
Poder viajar
Conhecer mundos de ontem
de hoje
de amanhã.
Imaginar.
Criar.
Sonhar.
A leitura permite isso e muito mais
Pois ler é tão bom!
Juntar letras
Formar palavras
Descobrir a sonoridade e o nome de tudo
Que está no mundo
nas coisas
no pensamento.
Ler é tão bom!
Poder viajar
Conhecer mundos de ontem
de hoje
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Imaginar.
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sábado, 30 de maio de 2009
DICA DE LEITURA - BRASÍLIA E JOÃO DIMAS E A SANTA DO CALDEIRÃO NA ÉPOCA DA INDEPENDÊNCIA
BRASÍLIA E JOÃO DIMAS E A SANTA DO CALDEIRÃO NA ÉPOCA DA INDEPENDÊNCIA / Maria José Silveira; ilustração Ângelo Abu. – Belo Horizonte; Formato Editorial, 2004 (Coleção Meninos e Meninas do Brasil)
Ambientado no Recife do século XIX, a trama é contextualizada na história pernambucana e na relação de amizade entre Brasília (menina mulata e escrava) e João Dimas (branco, pobre e filho de ex-alferes) que encontram, nas terras do engenho Casamontes, um caldeirão enterrado desde a época dos holandeses. Descubra a participação de personagens como: Lúcia do Coco e dona Siberina, Augusto José e Alencar José, filhos de dona Verônica e dom Álvaro José Casamontes, velha Sultéria, padre Montosinho, Tião Tuiu, pai e avô de João Dimas e o cachorro Canduca. As gravuras e as litografias de grandes artistas como Debret, Frans Post e Rugendas, mapas antigos e as ilustrações de Ângelo Abu enriquecem, ainda mais, o belo texto da autora.
terça-feira, 26 de maio de 2009
TECENDO FIOS - Valdemar Lourenço da Silva Júnior
TECENDO FIOS – Valdemar Lourenço da Silva Júnior
Valdemar estudou na Escola Municipal São Cristóvão, bairro da Guabiraba, Recife/Pe e se destacou pelo nível cognitivo e sede de conhecimentos; pelo interesse em literatura (recebendo vários prêmios em concursos de poesias e contos); pela facilidade em desenhar (quer usando as próprias mãos ou o mouse). Participou do volume 7 da Antologia Poetas Brasileiros Contemporâneos, em junho de 2004, da CBRJ e de uma coletânea em quatro volumes, através da Prefeitura do Recife e UBE/PE, juntamente com outros três estudantes daquela escola municipal.
Gostaria de ter mais material autoral e aqui socializar, mas só encontrei os originais que transcrevo abaixo, conforme acompanhamento dos manuscritos.
Gostaria de saber de você, Valdemar, agora jovem. E, continuo torcendo para que você desenvolva cada vez mais, o talento e a humanidade daquele menino que estudou no São Cristóvão.
sexta-feira, 8 de maio de 2009
Oficina DIZER POESIA É TÃO BOM!
Oficina DIZER POESIA É TÃO BOM!
Relato de experiência
Thelma Regina Siqueira Linhares
A Oficina DIZER POESIA É TÃO BOM! aconteceu no dia 30/04/2009, no turno da manhã, com 22 estudantes do Ciclo 2 – Ano 2 A, da Escola Municipal Oswaldo Lima Filho, alunos/as da professora Renata e fez parte do Evento Literário - Semana do Livro marcado, inicialmente, para os dias 23 e 24/04/2009. GOSTARIA DE RETIFICAR O NOME DO EVENTO: CONCERTO DE LEITURA, OCORRIDO 1º DIA EM 23/04 E 2º DIA EM 30/04/2009.
(http://emolf.blogspot.com)
Na sala de aula, rapidamente, me apresentei: Thelma Regina, professora da rede municipal do Recife, pesquisadora de folclore, aprendiz de poeta e, há quase dois anos, lotada na GBFL-Gerência de Biblioteca e Formação de Leitores. Estava, àquela manhã, para vivenciar com a turma, uma oficina de poesia, mais precisamente, uma oficina de dizer poesia.
Iniciando as atividades, pedi que cada estudante escrevesse, individualmente num cartãozinho, seu nome e uma palavra que achasse ligada à poesia. Era uma maneira da gente se conhecer um pouquinho e, também, de saber o que eles achavam de poesia. Enquanto as crianças se preparavam para produzir o crachá, eu ia desenrolando um cartaz e lendo o poema o Convite, de José Paulo Paes, que muitos acompanhavam, dizendo baixinho. Depois, afixei o cartaz na parede.
A confecção do crachá levou uns 10 minutos. As crianças usaram lápis hidrocor. As palavras escolhidas foram: alegria (1), amor (10), brincadeira (1), coração (1), letras (1), paixão (3), palavras(1), paz(3) e vida(1). Por solicitação, alguns/algumas estudantes concordaram em dizer o porquê da escolha da palavra. Por exemplo: “paixão porque quem escreve poesia tem paixão, amor”; “palavras porque precisa delas para escrever”.
Vinte e um crachás foram recolhidos, um rasgado e um extraviado:
Em seguida, falei um pouco sobre esse gênero literário, exemplificando com o dizer poesias. Para isso, usei os livros do pequeno acervo que levei. Alguns eram conhecidos pelos/as estudantes, que acompanhavam ou demonstravam alegria em ouví-los:
Oficina da Palavra, coletânea de poesias de professoras da Rede Municipal do Recife;
EJA Fazendo Versos, coletâneas de poesias de estudantes de EJA da Rede Municipal do Recife;
Bandeira Nordestina, Jessier Quirino;
Trem de Alagoas e outros poemas, coletânea Literatura em Minha Casa;
Bichos de Versos, coletânea Literatura em Minha Casa;
Berimbau e Outros Poemas, Manuel Bandeira;
O Jogo das Palavras Mágicas, Elias José;
Livro de Papel, Ricardo Azevedo;
A Menina Transparente, Elisa Lucinda;
Sapato Furado, Mário Quintana;
O Jardim de Todos, Carlos Rodrigues Brandão e Isis Zahara;
Folhetos de cordel (3 títulos).
Chegou, então, a hora de propor o recital. Proposta aceita de imediato. Disponibilizei 16 poesias, xerocadas em um conjunto de três folhas. Como estavam em duplas, solicitei que lessem baixinhos todos os poemas e escolhessem um para o recital, a ser apresentado para os/as colegas, na sala mesmo. E, se um poema fosse escolhido mais de uma vez, cada dupla daria a sua identidade, sua interpretação.
Nessa atividade, enquanto a turma conhecia, reencontrava e escolhia o poema para o recital, fui chamada por uma dupla de meninos – Bruno Vinicius e Ezequiel. Disseram que escreviam poesias e, não demorou muito, logo, no verso de seus crachás, estavam escritos os seus próprios versos, que foram ditos para os colegas durante o recital.
Durante o recital para a turma, Tereza, da DGTEC, filmou. Fotografei todas as duplas e enviei as fotos para o e-mail da professora Renata. (Achei melhor não incluir as fotos nessa socialização, pois não faço parte daquela unidade escolar.) Combinamos, a turma e eu, de trocar mensagens, periodicamente, às quartas-feiras, durante a ida das crianças ao laboratório de informática.
As duplas de estudantes e os poemas escolhidos foram:
Nathália e Andrew - Ler é tão bom, Thelma Regina Siqueira Linhares;
Denílson e Gabriel - Nem Venha, Marinalva Bernadete de Oliveira;
Jéssica e Priscila - Borboletas, Luiz Rodrigues;
Laíse e Mylena - Borboletas, Luiz Rodrigues;
Cibele e Ana Clésia - Gravata Colorida, Solano Trindade;
Mª Elisa e Elizabete - A Casa, Vinicius de Moraes;
Luciana e Mikaela - A Casa, Vinicius de Moraes;
Beatriz e Daniele - O Ron-ron do Gatinho – Ferreira Gullar;
Rebeca e Adriana - A Boneca, Olavo Bilac;
Vitória e Yasmim - Leilão de Jardim, Cecília Meireles;
Bruno e Ezequiel - Ser Mãe, Coelho Neto.
Os poemas que não foram usados no recital foram:
Ode a Chica, Eneide Maria Ferreira;
Irene no Céu, Manuel Bandeira;
Classe Média, Geraldino Brasil;
Dimensões, Dom Hélder Câmara;
Marginal Recife, Miró;
Convite, José Paulo Paes;
A Janela Encantada, Thiago de Mello.
Chegou a hora do intervalo para a merenda.
Na sala dos/as professores, conheci o escritor Osvaldo Pereira da Silva que estava relançando o seu livro Pina, Povo, Cultura e Memória, como atividade inclusa no Evento Literário da Semana do Livro, da Escola Municipal Oswaldo Lima Filho.
De volta à sala, propus um mote para a produção coletiva de um poema, o que foi aceito pela turma e produzido com interesse. Fui transcrevendo no quadro branco e algumas pequenas modificações foram realizadas enquanto o texto era escrito. O texto ficou assim:
DIZER POESIA É TÃO BOM
Poesia coletiva da turma Ciclo 2 – Ano 1 A
Por que dizer poesia é tão bom?
Porque expressa o pensamento.
Faz lembrar coisas da vida.
Porque expressa o amor.
Porque a poesia reflete novas palavras para a vida.
Porque pra fazer poesia
tem que ter amor e paixão
no nosso coração.
Essa provocação estimulou a vontade de escrever nas crianças. E produções poéticas autorais foram sendo escritas nos cartões e depois socializadas num dizer poético. Os temas foram variados: poesia, jardim, sonho, estrela, amor e mãe. Não sei se motivados pelo poema de Coelho Neto ou se pela proximidade do dia das mães, o fato é que 10 textos poéticos foram escritos com essa palavra.
Sempre motivados/as pelo dizer poesias, várias crianças pegaram o livro Berimbau e outros poemas e começaram um recital exclusivo de Manuel Bandeira. Espontaneamente, escolhiam o poema de sua predileção e o diziam para os/as colegas que se deliciavam com a poesia ou aguardavam ansiosos/as a vez de sua apresentação. Foi preciso, inclusive, limitar as inscrições porque a hora de terminar a oficina estava chegando... Mas foi possível ouvir nas vozes infantis: Trem de Ferro, O Pardalzinho, Canto de Natal e A Estrela.
Finalizando, li dois poemas do livro O Jardim de Todos, com o apelo de um cuidado especial com a vida e com o planeta Terra, responsabilidade individual e coletiva: Um passariinho e Vida de Índio.
Fiquei emocionada com a motivação e identificação da turma com a poesia! Com a vontade do dizer poesias dos pequenos e pequenas. E, em especial, com a disponibilidade de escrever poesias e textos poéticos. Evidentemente, refletindo um trabalho diário, de sensibilização, de contato com a palavra, de mediação de leituras.
domingo, 3 de maio de 2009
ALGUMAS CANTIGAS DE RODA
ALGUMAS CANTIGAS DE RODA
Thelma Regina Siqueira Linhares
Em 1979, quando ensinávamos, realizamos uma pesquisa entre alunos da 1ª a 4ª série do 1º Grau, de uma escola particular na cidade do Recife. O universo pesquisado totalizou oito turmas e cento e trinta crianças.
A pesquisa foi composta de um questionário, a título de tarefa de casa, durante as comemorações do mês de folclore – agosto. E, para a realização da mesma, contamos com a colaboração das colegas professoras, responsáveis por suas respectivas classes.
O questionário, respondido por crianças na faixa etária dos seis aos doze anos, abrangeu algumas das manifestações do folclore infantil: cantigas de roda, estórias e lendas, parlendas e travalínguas e brincadeiras. Também, apresentou perguntas sobre adivinhações, quadrinhas populares e provérbios.
Em algumas respostas percebemos, de modo nítido, a orientação do adulto. Porém, consideramos que tal interferência não invalidou os dados coletados, pois a transmissão – oral ou não – do fato folclórico às gerações mais novas, foi e continua sendo uma das principais fontes de sua própria sobrevivência.
Nesta pesquisa, apresentamos o que foi possível coletar sobre cantigas de roda. As mais conhecidas pela garotada e suas variações, às vezes, em apenas uma palavra. Descrevemos, também, a maneira peculiar de brincá-las. Na conclusão, apresentamos algumas sugestões que, no nosso entender, poderiam intensificar a presença desta manifestação folclórica no cotidiano infantil.
Uma restrição, desde já, fazemos ao presente estudo. Referimo-nos à nossa falta de conhecimento musical para “prendermos” nas classes de sol ou fá – não sei – a musicalidade das cantigas de roda.
A cantiga de roda que maior freqüência teve na pesquisa foi a Atirei o pau no gato. Brinca-se em roda, de mãos dadas, girando para a direita ou para a esquerda. Não há dramatização. Apenas no final da música – no “miau” – é que as crianças se acocoram. Além de ter sido a mais citada, esta cantiga de roda apresentou o maior número de variações: às vezes, em uma só palavra; em outras, em um verso inteiro. A primeira versão foi a mais conhecida:
“Atirei o pau no ga to tô
mas o ga to tô
não morreu reu reu
dona Chica ca
dimirou-se se
do miau, do miau
que o gato deu:
Miau!”
“Atirei o pau no ga t ó tó
mas o ga t ó tó
não morreu reu reu
dona Chi c á cá
De mirou s é sé
Do berro, do berro
Do gato teu
Miau!”
“Fui à Espanha” é outra cantiga de roda muito apreciada pelas crianças. Nela, a dramatização está presente e, o que é importante, todos participam em conjunto e igualmente. Por exemplo: apontar o céu, bater palmas, bater com o pé no chão, requebrar com as mãos na cintura, etc. A preocupação de todos é não ser a avó no final da brincadeira. Isto é, ao ser cantado o estribilho “a bênção vovó”, a roda é desfeita e cada criança procura um par. A que ficar sozinha é a avó e para ela se dirigem todos os pares:
“Fui à Espanha
buscar o meu chapéu
azul e branco
da cor daquele céu.
Bate palma, palma, palma
Bate pé, pé, pé
Olha a roda, roda, roda
Caranguejo peixe é.
Caranguejo não é peixe
Caranguejo peixe é
Caranguejo só é peixe
Na enchente da maré.
Samba crioula
Que vem da Bahia
Pega a criança e joga na bacia
A bacia é de ouro
Areada com sabão
E depois de areada
Enxugando com o roupão
O roupão é de seda
Camisinha de filó
E agora vamos dar
A bênção a vovó!
A bênção vovó!” (Repete-se diversas vezes)
Outra cantiga de roda em que há a participação do grupo é em “A canoa virou”. As crianças vão cantando e dizendo, de cada vez, o nome de um componente da roda. Ao ser chamado, o participante fica de costas e, continua na roda, até que todos assim estejam.
“A canoa virou
deixou de virar
por causa de ____ (o nome de uma criança da roda)
que não soube navegar.
Se eu fosse um peixinho
E soubesse nadar
Eu tirava ____ (repete-se o nome da criança)
Das ondas do mar.”
Em “Pai Francisco”, duas crianças são previamente escolhidas e têm, assim, o papel de destaque. Uma fica dentro da roda, parada, enquanto a outra, o “Pai Francisco”, fica do lado de fora, aguardando a chamada dos companheiros. O grupo começa a cantar e, quando chama o “Pai Francisco”, a roda pára e abre alas para sua passagem. Este deverá dramatizar bastante, para a alegria da garotada.
“Pai Francisco entrou na roda
Tocando seu violão
Delém, dém, dém
Delém, dém, dém.
Vem de lá seu delegado
Que Pai Francisco
Entrou na prisão.
Quando ele vem
Se requebrando
Parece um boneco
Se desmanchando.” (bis)
Em algumas cantigas de roda, a amizade existente entre as crianças pode interferir no transcurso da brincadeira. Isto porque, em alguns papéis de destaque que exigem substituição, pode ocasionar a escolha freqüente de determinada criança, em detrimento de outras que, assim, se sente rejeitada. Pode ocorrer, também, o pedido quase coletivo de ser escolhido, com a saída, até, do lugar na roda, o que, de certa forma, tumultua a brincadeira.
“A Carrocinha Pegou” é um exemplo. Ao ser iniciada a brincadeira, três crianças são escolhidas para ‘cachorrinho”. Estes formam uma roda menor, no centro. Quando chega a hora do estribilho, a roda maior pára e os “três cachorrinhos” escolhem um substituto, respectivamente, com pulos coordenando deslocamentos da mão direita para a testa e calcanhar direito tocando o chão. Em seguida, efetuam este mesmo movimento para o lado esquerdo, alternando-se até o término do refrão:
“A carrocinha pegou
três cachorros de uma só vez. (bis)
Trá lá lá que gente é essa?
Trá lá lá que gente má. (bis)”
Na cantiga de roda “Senhora dona Sancha” escolhe-se uma criança que fica acocorada no centro da roda, com os olhos tapados pelas mãos. Quando se canta o último verso, a criança, com os olhos fechados, vai escolher “uma pedrinha”. A escolha consiste em abraçar um dos integrantes da roda, que está parada. Para dificultar a escolha, pode ocorrer que todos resolvam se deslocar quando “Senhora dona Sancha” se aproxima...
“Senhora dona Sancha
descubra o seu rosto
seu rosto é de prata
quero ver a sua cara.
Que anjos são esses
Que andam por ai
É de noite é de dia
Padre Nosso, Ave Maria.
Sou filha do rei
Neta da rainha
Seu rei mandou dizer
Que escolhesse uma pedrinha.”
Como conclusão, arriscamos apresentar as seguintes considerações:
A cantiga de roda constitui um elemento indispensável na socialização infantil, além de ser um importante lazer.
As crianças pequenas começam a brincar de roda já no pré-escolar, ou antes, com as mães, babás ou coleguinhas.
Em geral, os meninos não gostam muito de brincar de roda – acham que é “brincadeira de menina”.
Embora, a freqüência da roda nos recreios escolares, praças ou áreas de lazer de edifícios seja pequena, é interessante verificar sua presença, ainda que, só como música, canto.
É alentador, de certa forma, observar que a cantiga de roda disputa, com os super-heróis importados e brinquedos eletrônicos, um lugarzinho nas preferências infantis.
É estimulante saber que as crianças continuam dando as mãos e brincando de roda, embora em número muito reduzido. Mas, continuam cantando:
“Ciranda, cirandinha
Vamos todos cirandar
Vamos dar a meia-volta
Volta e meia vamos dar.”
Nós, adultos, poderíamos e deveríamos contribuir, de modo consciente e objetivo, na preservação e maior divulgação desta manifestação do folclore infantil – assim como, de muitos outros fatos folclóricos.
Apresentamos a seguir, apenas, três sugestões a respeito:
As professoras poderiam introduzir, com maior freqüência, as cantigas de roda no repertório do pré-escolar, através de dramatizações, das festinhas ou, simplesmente, dos recreios dirigidos.
As professoras de 1º Grau poderiam usar, como textos de leitura e interpretação, as letras das cantigas de roda em suas classes.
Os meios de comunicações, em especial a televisão, poderiam divulgar mais as cantigas de roda dentro de suas programações infantis, utilizando-se de concursos, pesquisas e promoções diversas.
(*) Micromonografia da série FOLCLORE, nº 136, de julho de 1983. FUNDAJ.
Incluso na ANTOLOGIA PERNAMBUCANA DE FOLCLORE. Organizada por Mário Souto Maior e Waldemar Valente. Editora Massangana. Recife. 1988
www.usinadeletras.com.br 20/04/2002
Thelma Regina Siqueira Linhares
Em 1979, quando ensinávamos, realizamos uma pesquisa entre alunos da 1ª a 4ª série do 1º Grau, de uma escola particular na cidade do Recife. O universo pesquisado totalizou oito turmas e cento e trinta crianças.
A pesquisa foi composta de um questionário, a título de tarefa de casa, durante as comemorações do mês de folclore – agosto. E, para a realização da mesma, contamos com a colaboração das colegas professoras, responsáveis por suas respectivas classes.
O questionário, respondido por crianças na faixa etária dos seis aos doze anos, abrangeu algumas das manifestações do folclore infantil: cantigas de roda, estórias e lendas, parlendas e travalínguas e brincadeiras. Também, apresentou perguntas sobre adivinhações, quadrinhas populares e provérbios.
Em algumas respostas percebemos, de modo nítido, a orientação do adulto. Porém, consideramos que tal interferência não invalidou os dados coletados, pois a transmissão – oral ou não – do fato folclórico às gerações mais novas, foi e continua sendo uma das principais fontes de sua própria sobrevivência.
Nesta pesquisa, apresentamos o que foi possível coletar sobre cantigas de roda. As mais conhecidas pela garotada e suas variações, às vezes, em apenas uma palavra. Descrevemos, também, a maneira peculiar de brincá-las. Na conclusão, apresentamos algumas sugestões que, no nosso entender, poderiam intensificar a presença desta manifestação folclórica no cotidiano infantil.
Uma restrição, desde já, fazemos ao presente estudo. Referimo-nos à nossa falta de conhecimento musical para “prendermos” nas classes de sol ou fá – não sei – a musicalidade das cantigas de roda.
A cantiga de roda que maior freqüência teve na pesquisa foi a Atirei o pau no gato. Brinca-se em roda, de mãos dadas, girando para a direita ou para a esquerda. Não há dramatização. Apenas no final da música – no “miau” – é que as crianças se acocoram. Além de ter sido a mais citada, esta cantiga de roda apresentou o maior número de variações: às vezes, em uma só palavra; em outras, em um verso inteiro. A primeira versão foi a mais conhecida:
“Atirei o pau no ga to tô
mas o ga to tô
não morreu reu reu
dona Chica ca
dimirou-se se
do miau, do miau
que o gato deu:
Miau!”
“Atirei o pau no ga t ó tó
mas o ga t ó tó
não morreu reu reu
dona Chi c á cá
De mirou s é sé
Do berro, do berro
Do gato teu
Miau!”
“Fui à Espanha” é outra cantiga de roda muito apreciada pelas crianças. Nela, a dramatização está presente e, o que é importante, todos participam em conjunto e igualmente. Por exemplo: apontar o céu, bater palmas, bater com o pé no chão, requebrar com as mãos na cintura, etc. A preocupação de todos é não ser a avó no final da brincadeira. Isto é, ao ser cantado o estribilho “a bênção vovó”, a roda é desfeita e cada criança procura um par. A que ficar sozinha é a avó e para ela se dirigem todos os pares:
“Fui à Espanha
buscar o meu chapéu
azul e branco
da cor daquele céu.
Bate palma, palma, palma
Bate pé, pé, pé
Olha a roda, roda, roda
Caranguejo peixe é.
Caranguejo não é peixe
Caranguejo peixe é
Caranguejo só é peixe
Na enchente da maré.
Samba crioula
Que vem da Bahia
Pega a criança e joga na bacia
A bacia é de ouro
Areada com sabão
E depois de areada
Enxugando com o roupão
O roupão é de seda
Camisinha de filó
E agora vamos dar
A bênção a vovó!
A bênção vovó!” (Repete-se diversas vezes)
Outra cantiga de roda em que há a participação do grupo é em “A canoa virou”. As crianças vão cantando e dizendo, de cada vez, o nome de um componente da roda. Ao ser chamado, o participante fica de costas e, continua na roda, até que todos assim estejam.
“A canoa virou
deixou de virar
por causa de ____ (o nome de uma criança da roda)
que não soube navegar.
Se eu fosse um peixinho
E soubesse nadar
Eu tirava ____ (repete-se o nome da criança)
Das ondas do mar.”
Em “Pai Francisco”, duas crianças são previamente escolhidas e têm, assim, o papel de destaque. Uma fica dentro da roda, parada, enquanto a outra, o “Pai Francisco”, fica do lado de fora, aguardando a chamada dos companheiros. O grupo começa a cantar e, quando chama o “Pai Francisco”, a roda pára e abre alas para sua passagem. Este deverá dramatizar bastante, para a alegria da garotada.
“Pai Francisco entrou na roda
Tocando seu violão
Delém, dém, dém
Delém, dém, dém.
Vem de lá seu delegado
Que Pai Francisco
Entrou na prisão.
Quando ele vem
Se requebrando
Parece um boneco
Se desmanchando.” (bis)
Em algumas cantigas de roda, a amizade existente entre as crianças pode interferir no transcurso da brincadeira. Isto porque, em alguns papéis de destaque que exigem substituição, pode ocasionar a escolha freqüente de determinada criança, em detrimento de outras que, assim, se sente rejeitada. Pode ocorrer, também, o pedido quase coletivo de ser escolhido, com a saída, até, do lugar na roda, o que, de certa forma, tumultua a brincadeira.
“A Carrocinha Pegou” é um exemplo. Ao ser iniciada a brincadeira, três crianças são escolhidas para ‘cachorrinho”. Estes formam uma roda menor, no centro. Quando chega a hora do estribilho, a roda maior pára e os “três cachorrinhos” escolhem um substituto, respectivamente, com pulos coordenando deslocamentos da mão direita para a testa e calcanhar direito tocando o chão. Em seguida, efetuam este mesmo movimento para o lado esquerdo, alternando-se até o término do refrão:
“A carrocinha pegou
três cachorros de uma só vez. (bis)
Trá lá lá que gente é essa?
Trá lá lá que gente má. (bis)”
Na cantiga de roda “Senhora dona Sancha” escolhe-se uma criança que fica acocorada no centro da roda, com os olhos tapados pelas mãos. Quando se canta o último verso, a criança, com os olhos fechados, vai escolher “uma pedrinha”. A escolha consiste em abraçar um dos integrantes da roda, que está parada. Para dificultar a escolha, pode ocorrer que todos resolvam se deslocar quando “Senhora dona Sancha” se aproxima...
“Senhora dona Sancha
descubra o seu rosto
seu rosto é de prata
quero ver a sua cara.
Que anjos são esses
Que andam por ai
É de noite é de dia
Padre Nosso, Ave Maria.
Sou filha do rei
Neta da rainha
Seu rei mandou dizer
Que escolhesse uma pedrinha.”
Como conclusão, arriscamos apresentar as seguintes considerações:
A cantiga de roda constitui um elemento indispensável na socialização infantil, além de ser um importante lazer.
As crianças pequenas começam a brincar de roda já no pré-escolar, ou antes, com as mães, babás ou coleguinhas.
Em geral, os meninos não gostam muito de brincar de roda – acham que é “brincadeira de menina”.
Embora, a freqüência da roda nos recreios escolares, praças ou áreas de lazer de edifícios seja pequena, é interessante verificar sua presença, ainda que, só como música, canto.
É alentador, de certa forma, observar que a cantiga de roda disputa, com os super-heróis importados e brinquedos eletrônicos, um lugarzinho nas preferências infantis.
É estimulante saber que as crianças continuam dando as mãos e brincando de roda, embora em número muito reduzido. Mas, continuam cantando:
“Ciranda, cirandinha
Vamos todos cirandar
Vamos dar a meia-volta
Volta e meia vamos dar.”
Nós, adultos, poderíamos e deveríamos contribuir, de modo consciente e objetivo, na preservação e maior divulgação desta manifestação do folclore infantil – assim como, de muitos outros fatos folclóricos.
Apresentamos a seguir, apenas, três sugestões a respeito:
As professoras poderiam introduzir, com maior freqüência, as cantigas de roda no repertório do pré-escolar, através de dramatizações, das festinhas ou, simplesmente, dos recreios dirigidos.
As professoras de 1º Grau poderiam usar, como textos de leitura e interpretação, as letras das cantigas de roda em suas classes.
Os meios de comunicações, em especial a televisão, poderiam divulgar mais as cantigas de roda dentro de suas programações infantis, utilizando-se de concursos, pesquisas e promoções diversas.
(*) Micromonografia da série FOLCLORE, nº 136, de julho de 1983. FUNDAJ.
Incluso na ANTOLOGIA PERNAMBUCANA DE FOLCLORE. Organizada por Mário Souto Maior e Waldemar Valente. Editora Massangana. Recife. 1988
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