SÓ UM CONTO DE NATAL
Thelma Regina Siqueira Linhares
Já tinha ouvido falar de Natal. De um tal Menino Jesus, pobrezinho, que nasceu há muito tempo, num lugar longe, mas de nome bonito – Belém. Tinha pai e mãe. Ganhou presentes de pastores e reis. Teve anjos e animais por companhia.
Mas, hoje, quem aparece mesmo é o Papai Noel. Não sei como ele agüenta aquela roupa vermelha e quente. Bem que poderia fazer a barba e cortar os cabelos. Afinal, já é bem velhinho pra chamar tanta atenção... o bom é que ele tem um saco cheinho de presentes e que atende sempre aos pedidos das crianças. Sempre, não. Quase sempre. Pois presente de criança pobre corre o risco de ser trocado de última hora. Nunca vem na quantidade pedida ou é radicalmente substituído no conteúdo. Isso, quando não passa batido...
Thelma Regina Siqueira Linhares
Já tinha ouvido falar de Natal. De um tal Menino Jesus, pobrezinho, que nasceu há muito tempo, num lugar longe, mas de nome bonito – Belém. Tinha pai e mãe. Ganhou presentes de pastores e reis. Teve anjos e animais por companhia.
Mas, hoje, quem aparece mesmo é o Papai Noel. Não sei como ele agüenta aquela roupa vermelha e quente. Bem que poderia fazer a barba e cortar os cabelos. Afinal, já é bem velhinho pra chamar tanta atenção... o bom é que ele tem um saco cheinho de presentes e que atende sempre aos pedidos das crianças. Sempre, não. Quase sempre. Pois presente de criança pobre corre o risco de ser trocado de última hora. Nunca vem na quantidade pedida ou é radicalmente substituído no conteúdo. Isso, quando não passa batido...
E o Natal estava chegando.
Percebia, aos poucos, as ruas, praças, lojas e casas se transformando. Árvores enfeitadas por bolas coloridas, laços e fitas. Sinos. Velas. Presépios. E luzes. Muitas luzes. E o vai-e-vem de gente cada vez mais carregada de pacotes.
Só a minha rotina parecia não mudar. Continuando na rua com o grupo de iguais. Não obedecendo limites sociais. Fazendo quase tudo que dava na telha. Morcegando ônibus. Chutando portão. Brigando por um pão ou pela cola. Pedindo dez centavos nos sinais. Dormindo ao relento... Voltar pra casa, nem pensar.
Então, chegou a véspera do Natal. Drogado, sofri um atropelamento de moto e fui parar num hospital público. Passei por uma cirurgia na perna. Na enfermaria, convalescendo, fiquei com outras crianças, em plena noite de Natal. Ainda groge da anestesia e da cola, com certeza, vi quando ele se aproximou. Achei que era um anjo. Gordinho, cabelos encaracolados e com um pacotinho nas mãos. Ele me entregou e desejou Feliz Natal. Nem agradeci. Abri o pacote e vi um carro vermelho. Lindo!
Só mais tarde é que entendi que o Feliz Natal, na verdade, foi a chance de continuar vivo e poder recomeçar.
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