Brincar com sons
Juntar letras
Formar palavras
Descobrir a sonoridade e o nome de tudo
Que está no mundo
nas coisas
no pensamento.

Ler é tão bom!

Poder viajar
Conhecer mundos de ontem
de hoje
de amanhã.
Imaginar.
Criar.
Sonhar.
A leitura permite isso e muito mais
Pois ler é tão bom!

domingo, 19 de abril de 2009

PARLENDAS NA GUABIRABA


PARLENDAS NA GUABIRABA
Thelma Regina Siqueira Linhares

Fugindo à regra geral das brincadeiras de correr, muitas vezes agressivas, as meninas da área de Casa Amarela, particularmente da Guabiraba, gostam de brincar com parlendas, durante o recreio conturbado das escolas públicas de 1º grau.

São meninas na faixa etária dos sete aos doze anos que se organizam em duplas ou em quartetos e, juntas, vão cantando e acompanhando, com gestos, o que a letra sugere.

As letras têm rimas que reforçam a marcação da cantilena. Dado o início, as crianças começam a cantar e acompanhar os gestos com atenção, graça e alegria. Ao errar, recomeçam a brincadeira, com a mesma vitalidade, até cansar e enjoar quando, então, partem para outras atividades lúdicas.

É importante destacar, na parlenda, o elemento socializador. Em algumas, há a participação das crianças que rodeiam as que estão cantando e têm, incluídos, seus nomes nas letras e brincadeiras. Às vezes, os meninos podem, democraticamente, brincar.

Destaca-se, também, o elemento lúdico que, despretensiosamente, vai desenvolvendo afinação, ritmo e o gosto pela musicalidade, tão presentes nas crianças.

Ainda há de se ressaltar, entre outros, o desenvolvimento da atenção, do vocabulário e da coordenação motora.

A seguir, alguns exemplos de parlendas cantadas por Flávia, Janaína, Ivana, Isabel, Elza, Luciana, Lucilaine, Joseane, Gerlane, Sunamita, Taís e outras meninas da Guabiraba.

Babalu
(1) Babalu
(2) Babalu é Califórnia
Califórnia é Babalu
Eu só danço discoteca
(3) Discoteca da galinha
(4) Cintura de mocinha
(5) Bumbum empinadinho
(6) Babalu
(7) Aqui prá tu

Gestos que acompanham a cantilena Babalu:

(1) Mãos postas se tocando em palmas dorso das mãos esquerdas juntas
(2) Mãos direitas batendo embaixo e em cima
(3) Mãos nas axilas
(4) Mãos na cintura
(5) Mãos nos quadris
(6) Mãos postas se tocando
(7) Dá o dedo

Comentários da parlenda Babalu

As meninas cantam entusiasmadas e gesticulam conforme a letra. O último verso é cantado com mais ênfase, enquanto, o gesto de dar o dedo é feito com todo vigor, numa atitude autorizada e, até desculpável pela cantilena, apesar de reprimido, normalmente, pelo adulto.

O casamento

Com quem Sthella
Pretende se casar?
Com louro, moreno,
Careca, cabeludo
Rei, ladrão
Polícia, capitão?
Estrelinha do meu coração.

Gestos que acompanham a cantilena O Casamento:

As mãos de cada criança se tocavam na vertical, as duas palmas se batem e bate-se palma, repetindo-se esta seqüência até a palavra coração, quando, então, esticam-se os dedos que, somados vão dar o número da escolha das opções cantadas: 1 - louro; 2 - moreno, 3 - careca, 4 - cabeludo, 5 - rei, 6 - ladrão, 7 - polícia, 8 - capitão, retornando ao 9 - louro e 10 - moreno.

Comentário da cantilena O Casamento:

A dupla que está cantando e gesticulando, pode incluir outra criança que esteja acompanhando a brincadeira.

Se a criança for do ciclo de amizades e o escolhido for um mau-partido, as duas cantoras tornam a escolher outro candidato através de uma nova contagem. Caso contrário, deixam as coisas assim mesmo...

Outras parlendas cantadas pela garotada da Guabiraba:

Dindim, Castelo

Dindim castelo
Mal-assombrado
Xixi de rato
Prá todo lado
A coitadinha
Da princesinha
Não aguentou:
E desmaiou.
Manchete, manchete, manchete
Manchete, manchete
Aberto, fechado, aberto
Cruzado, sentado


Cê cê

Cê cê rê rê cê cê - cê cê
Somos quatro
Eu com tu
Tu com ela
Nós por cima
Vós por baixo
Cê cê rê rê cê cê - cê cê

Conclusão:

É interessante observar que o Folclore está presente no dia-a-dia das crianças. Talvez, não tão constante e atuante quanto gostaríamos, mas, revestindo-se do novo, reinventando-se, recriando-se. E contribuindo, com certeza, para tornar a vida mais criativa e feliz. Como as parlendas infantilmente cantadas.


(Linhares, Thelma Regina Siqueira. "Parlendas na Guabiraba". Em Fundação Joaquim Nabuco, Coordenadoria de Estudos Folclóricos. Folclore, 252, julho de 1998)

Texto enviado como colaboração para a Jangada Brasil, nº 38, de outubro/2001.
www.jangadabrasil@com.br

www.usinadeletras.com.br em 16/06/2002

Um comentário:

Thelma Regina Siqueira Linhares disse...

Trabalhei mais de duas décadas no bairro da Guabiraba, RPA 3, da cidade do Recife, na Escola Municipal São Cristóvão, que se dividiu, originando a Escola Municipal Anexa São Cristóvão e, depois, nomeada Escola Municipal da Guabiraba.
O presente trabalho, escrito em meados da década de 90, do século XX, relata como as crianças, em especial as meninas daquela comunidade, brincavam no recreio escolar. Tanto tempo depois, ainda se vê, periodicamente, parlendas, antigas, recriadas ou novas, fazendo parte do lazer e da socialização nas escolas do Recife.